O Usurpador do Trono


      A princesa morava no castelo com o rei e a rainha e conheceu o lindo príncipe encantado que morava num reino distante, os dois se apaixonaram à primeira vista. Tudo ia bem e o rei decidiu construir um castelo para a princesa morar quando se casasse com o lindo príncipe.
     O rei escolheu o melhor terreno do reino e construiu um belo castelo para a filha. No entanto, no verão daquele ano terrível, o rei adoeceu gravemente e faleceu.
     Ainda naquele ano, iniciou-se uma guerra entre o reino do príncipe e outro reino distante. O príncipe foi até a princesa e lhe disse que deveriam adiar o casamento por causa da guerra. A princesa argumentou que eles deveriam casar-se e ela iria com ele. O príncipe não concordou e a princesa chorou.
     Enquanto ocorria a guerra e os dois estavam distantes, o rival do príncipe desejou casar-se com a princesa, enviou seu mensageiro até ela e, disfarçado de grande sábio, convenceu-a de que o príncipe estava mentindo e não queria casar-se com ela. O mensageiro do rival marcou um encontro entre ela e o seu chefe.
     Na noite do encontro, o rival do príncipe apresentou-se magnífico, belo, alto, forte e corajoso, além de delicado e sensível, além disso, ele colocou uma poção mágica dentro do copo de vinho branco por ela tomado, e esta ficou enfeitiçada por ele, desistiu do casamento com o príncipe e se casou com o rival.
     O rival se apossou do castelo que fora construído para a princesa morar com o príncipe e teve filhos com ela.
     No entanto, ele nunca conquistou de verdade o coração da princesa, pois este pertencia ao príncipe encantado, ainda que o príncipe fora para a guerra e nunca mais dera notícia.
     Quando a  poção mágica utilizada pelo rival perdeu seu efeito, a princesa percebeu o erro que cometeu e caiu em grande depressão ao se ver presa ao usurpador do castelo. Ela queria fugir, mas ele a prendia, disse aos guardas que a vigiassem e não permitissem que ela fugisse. Mas, apesar disso, ele sempre lhe deu as melhores roupas, jóias, diamantes, e atendeu a todos os seus desejos, menos ao desejo de liberdade.
     Um dia, ao ver que tudo o que fazia era inócuo, e que a tristeza da princesa era muito grande, uma grande dor se abateu sobre o coração do usurpador. Nesta mesma época, uma feiticeira, que desejava ajudar a princesa, entrou no castelo e lhe disse que a princesa só iria se curar se ganhasse a liberdade, e este compreendeu que ele, apesar de amar a princesa e de lhe dar tudo o que era possível, nunca poderia conquistar o seu coração, pois este pertencia ao coração do príncipe encantado.
     Então, o usurpador decidiu que era hora de dar a liberdade à princesa, chamou-a e lhe disse que ela poderia sair quando quisesse e que o castelo estaria aberto para ela caso não encontrasse o príncipe encantado.
     E a princesa procurou a feiticeira para acompanhá-la na busca. As duas saíram à procura do príncipe encantado. A princesa poderia ter paz apenas se o encontrasse e se, ao vê-lo, ainda percebesse o mesmo amor que a conquistara, a princesa precisa ter certeza de que ainda era possível aos dois se amar e viver em outro reino.
     A princesa, com a ajuda da feiticeira, encontrou o príncipe encantado após muitos anos, ele estava cansado de tanto guerrear e desejava encerrar a guerra e viver tranqüilo, seu pai estava idoso e precisava dele para administrar o reino.
     Os dois se amaram novamente como se amaram antes, e a princesa desejava viver com ele o resto de sua vida. Mas, outro problema aparecia agora, para isso, ela precisaria abandonar os filhos que teve com o usurpador do reino de seu pai. Esta era a decisão mais difícil. Ela poderia abandonar os filhos?
     Esta seria uma decisão muito difícil, abandonar o vilão e usurpador seria abandonar os seus filhos, mas não seria a felicidade completa com o príncipe encantado. O vilão sabia que, apesar de tudo, a princesa não poderia jamais abandonar os filhos que tanto amava. Ela poderia não amá-lo, mas abandoná-lo, seria abandonar os filhos.
     Então, ela percebeu que caíra em outra armadilha do vilão, uma armadilha mais cruel do que a primeira porque destruiria o seu coração.
     A princesa foi obrigada a abandonar o príncipe encantado e voltou a viver com o usurpador, este, nunca mais a prendeu e lhe deu liberdade para ir onde quisesse, deixando bem claro que, se um dia ela retornasse ao príncipe, nunca mais ela voltaria para o castelo e seus filhos.
     O príncipe, sentindo-se preterido pela princesa, nunca mais se casou e viveu triste no seu reino até a morte.
     O usurpador deixou de amar a princesa e esta morreu sem ter o amor dele e sem ter o amor do príncipe.
     E o usurpador ficou morando no castelo com o amor dos seus filhos, pois nunca os abandonou, envelheceu, ganhou netos, bisnetos e morreu bem velhinho, querido e amado por todos, menos pela princesa a quem nunca conseguira conquistar.