O Príncipe e a Bruxa


           Depois de salvar a princesa dos perigos em que ela se envolvera, finalmente, o príncipe casou-se com a amada e eles foram morar no castelo no reino mais bonito do mundo. E teriam vivido felizes para sempre.
           Tudo ia bem no reino, os aldeões trabalhavam do nascer ao por do sol, o príncipe vagabundeava, a princesa se embelezava mesmo após três lindos príncipes pestinhas nascerem.
            Um dia chega a notícia de que o rei, pai da princesa, morreu. Houve um mês de luto no reino, após o funeral, sim, porque rei não tem enterro, tem funeral, e, enquanto estava no tempo de luto, a princesa não saiu do seu quarto.
            Uma noite antes do término deste luto, aliás, uma noite, destas noites bem horríveis de tempestade, relâmpagos que arrebentam árvores, trovões, acabou a energia do castelo, às escuras, vez ou outra com as janelas iluminadas pelos relâmpagos, o príncipe andava pelo castelo quando alguém bateu na imensa porta de madeira, não havendo criado algum por perto naquele momento, o próprio príncipe abriu a porta e uma velhinha franzina pediu abrigo para aquela noite de tempestade e um pouco de pão para comer.
            Sensibilizado pelo infortúnio da pobre velhinha, o príncipe acolheu-a no castelo ordenando aos criados que lhe dessem comida e lhe arranjassem um local para ela dormir, os dias se passaram, a velhinha ficou no castelo e se tornou conhecida de todos, tendo arrumado um emprego na cozinha.
            Aos poucos, a rotina dos afazeres de um príncipe que se tornara rei tornou-se muito pesada e ele trabalhava horas demais, administrando e viajando para outros reinos. Também a princesa se encontrava muito retraída e calada, até que um dia, ela começou a reclamar que o príncipe não lhe dava mais atenção, que não gostava mais dela, que se preocupava apenas com o reino, que ela sentia-se muito só. O príncipe mandou-lhe presentes dos outros reinos que visitava, mandou-lhe flores e jóias e a princesa continuava reclamando. Quando retornava ao castelo, a princesa recusava-se a dormir com ele se não houvesse alguma jóia ou presente caríssimo.
            Sem entender o que se passava com a princesa, o príncipe procurou o mago real que se fazia de conselheiro matrimonial também.
            Este lhe deu uma poção mágica dizendo para bebê-la assim que ele acordasse ao lado da princesa antes que ela abrisse os olhos.
            O príncipe o fez, ao acordar naquela manhã, bebeu a poção e olhou para a princesa e viu o horror ao seu lado, era a visão do inferno e ele não podia acreditar: a velhinha que ele acolhera naquela noite distante estava deitada na sua cama no lugar da princesa.
            Imediatamente, ele pulou da cama assustado e deu um grito acordando a princesa, assim que ela abriu os olhos, o príncipe viu novamente a princesa deitada.
            Ele retornou ao mago para saber o que significava aquilo que lhe acontecera e o este lhe disse que a velha, na verdade, era uma bruxa que tomou o lugar da princesa sem que ele percebesse e que ele precisava encontrar a verdadeira princesa no castelo, pois ela estava escondida em algum lugar.
            Então, o mago deu-lhe um bastão mágico que lhe indicaria o local em que a princesa estava, o príncipe tomou o bastão e andou por todo o castelo para encontrá-la, ao se aproximar de um dos quartos do enorme castelo, o bastão apontou para o lugar que a princesa estava, o príncipe entrou no enorme salão e viu a princesa bela e radiante como sempre ela sempre fora e como ele a guardava na memória, quando correu até ela, a bruxa apareceu na sua frente e o proibiu de continuar, ele gritou para a princesa mas esta nada ouvia, a bruxa gargalhou e disse ao príncipe que a princesa não podia ouvi-lo e nem enxergá-lo, que ela estava sob um feitiço poderoso e que ele nunca poderia chegar até ela, somente se fizesse tudo o que a bruxa queria, ele poderia chegar até a princesa.
            Transformada em princesa, a bruxa pediu viagens caríssimas, roupas novas, jóias, comidas das mais saborosas, o príncipe lhe dava tudo na esperança de conseguir chegar até a princesa que ele tanto queria, mas a bruxa sempre queria mais e nunca permitia que o príncipe se aproximasse da princesa.
            O príncipe pensou seriamente em matar a bruxa,  antes foi aconselhar-se com o mago real que lhe disse que ele não poderia fazer isso nunca, pois se o fizesse, a princesa continuaria perdida naquele mundo imaginário para sempre e nunca mais o ouviria ou o enxergaria, o príncipe deveria enganar a bruxa.
            Assim, numa noite em que ele dormira ao lado da princesa-bruxa, o príncipe colocou sonífero na água que ela costumava beber antes de dormir e ela caiu num sono profundo. O príncipe carregou a princesa-bruxa no colo até a masmorra e a trancou, depois, retornou ao quarto em que sabia estar a princesa verdadeira, ao abrir a porta, encontrou-a em seu mundo próprio, ela ainda não o enxergava e não o ouvia, mesmo quando o príncipe a tomava nos braços, ela não o percebia.
            O príncipe volta ao mago para saber o que fazer, ele lhe diz para dar a a princesa algo que eles tiveram como muito importante no primeiro dia de casamento.
            O príncipe pensou que a coisa mais importante que tinham era a aliança de ouro que trocaram no dia do casamento, mas a aliança da princesa estava no dedo da princesa-bruxa presa na masmorra. O príncipe voltou à masmorra, tirou a aliança do dedo da princesa-bruxa e a levou para o quarto da princesa, colocando-a em cima da escrivaninha.
            A princesa aproximou-se da escrivaninha e encontrou a aliança de ouro, tomou-a e a colocou no dedo anular da mão esquerda e disse: “o príncipe!!!” e começou a procurar por ele, mas não o enxergava, gritava “onde está o príncipe?”, e ele estava na frente dela e ela não o enxergava, desesperado, o príncipe, sem saber o que fazer, começou a chorar e chorar e chorar, atirando-se chão sem conseguir parar de chorar toda a dor que sentia, toda a tristeza que possuía, tudo o que passara até chegar ali.
            Então, o príncipe sentiu o toque da mão suave da princesa em sua fronte, esta o viu e lhe perguntou porque chorava, ele respondeu que era por ela, por amor a ela que chorava, abraçaram-se e se beijaram.
            Agora, todos os dias o príncipe passa pela masmorra para ter certeza de que a bruxa está presa e toma a poção mágica de manhã para saber se dormiu com a princesa verdadeira.